Apresentação

RIEC (Rede Internacional em Estudos Culturais) é uma associação internacional que integra 10 universidades, de 5 países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal). Essas instituições têm se debruçado na difusão dos Estudos Culturais por meio do ensino, da investigação científica e de ações de intervenção junto a grupos e comunidades. Esse grupo, foi inicialmente constituído a partir de ações colaborativas, entre pesquisadores e instituições, já existentes e fortalecidas nas últimas décadas.

Portanto, a Rede é resultado do amadurecimento dessas parcerias, com vistas a formalizarmos e institucionalizarmos o resultado desse trabalho coletivo e interdisciplinar. Além disso, o trabalho em rede pode facilitar a investigação de problemas e interesses comuns que se relacionam com os Estudos Culturais e dessa forma, contribuir com a descentralização da produção científica e com a horizontalidade entre as parcerias individuais e institucionais.

Como estratégias para a consolidação da rede, a RIEC propõe as seguintes atividades: executar projetos coletivos de formação, inovação, pesquisa e difusão; organizar um sistema de informação e gestão que possa integrar as atividades da Rede; divulgar e organizar a integração de novas instituições parceiras e promover atividades acadêmicas potencializando sua projeção e articulação internacional. 

Estes objetivos e estratégias mobilizam as ações da RIEC que realizou o seu primeiro evento científico no ano de 2021, organizado pela Universidade de Aveiro. Esta ação teve como meta organizar uma cartografia dos Estudos Culturais envolvendo o trabalho desenvolvido nos últimos anos pelas 10 Universidades de língua portuguesa que compõe a Rede: Universidade de Aveiro (Portugal), Universidade de São Paulo (Brasil), Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), Universidade Federal do Pará (Brasil), Universidade Federal do Paraná (Brasil), Universidade Federal Fluminense (Brasil), Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro (Brasil), Instituto Superior Politécnico Independente (Angola), Universidade Cabo Verde (Cabo Verde) e Universidade Save (Moçambique). 

O tema proposto para a segunda edição do evento surgiu das apresentações de trabalhos da cartografia dos diferentes grupos de pesquisa e instituições vinculados a RIEC, bem como do interesse de pesquisa dos grupos e da Instituição (UFMG) responsável pela organização desse evento. Os participantes da Rede têm buscado aprofundar estudos sobre as experiências culturais de pessoas e grupos sociais que constituem práticas, cotidianos e processos identitários. Essa trajetória nos aproxima potencialmente dos Estudos Culturais, na perspectiva de que a cultura é o lócus no qual se dão as disputas de saberes/conhecimentos/significações, reguladas e envolvidas pelas relações de poder de uma determinada sociedade. 

Na trilha desse diálogo com os Estudos Culturais, a RIEC está em busca de novas e outras metodologias de investigação das relações sociais, que nos possibilitem relacionar temas como Lazer e Movimento Social. No contexto dos Estudos do Lazer, os Estudos Culturais nos inspiram problematizar outras formas de habitar no mundo, outras relações com o tempo e o território, gerando saberes e organização social. 

Além disso, esse debate nos permite ir ao encontro de sujeitos-corpos que dançam, jogam, brincam e cantam e que enfatizam a dimensão lúdica da festa, enfatizando centralidade à corporalidade das pessoas e grupos sociais, como possibilidade de expressão de identidade e de resistências reveladoras de processos de organização e resistência.

É preciso atenção para a massificação e a manipulação dos indivíduos, de seus corpos, suas ludicidades e da própria arte no contexto do hibridismo das culturas. Mas também é preciso o reconhecimento da fluidez, dos escapes culturais nem sempre alienantes, que as culturas de massa são capazes de produzir na intervenção, empoderamento e consciência dos indivíduos e coletivos. Enquanto marca­dores de “diferença” social o reconhecimento do multiculturalismo como algo impregnado na sociedade contemporânea, nos provoca releituras, a percepção de estéticas outras, num movimento ambivalente de reprodução e produção de culturas, inclusive em seus processos de violência, resistência e transgressão.

Portanto, esse evento propõe refletir sobre diferentes questões: como construir outras relações de pesquisa? Como nossas pesquisas e ações podem expressar posturas políticas de colocar-nos solidários a diferentes lutas por justiça e igualdade social? Em que sentido estudos que trazem como centralidade o “Lazer”, como desafio para pensar o corpo, o tempo, o território, a experiência, as instituições, as políticas públicas trariam novos elementos para indagar experiências interculturais? Estamos atentas/os aos rituais da terra, à importância do corpo, e às práticas culturais tomadas como palavra-outra e condição de expressão e identificação?

Assim, de forma coletiva, temos buscado investigar experiências culturais indagando formas de participação e relações de acesso ao conhecimento, relacionando-as à constituição das experiências dos sujeitos. O diálogo com os Estudos Culturais tem ampliado e potencializado o olhar sobre as perspectivas de compreender o Lazer e a Experiência Cultural, cuja em centralidade da vida se revela no corpo, no festejar, no celebrar, indagando outras relações possíveis, a despeito das relações de poder impregnadas nos e pelos modos de produção social moderno-capitalistas. Por isso, definimos como temática central desse evento: Lazer, Corpos e Estudos Culturais.